O QUE VOCÊ ESTÁ BUSCANDO NA BÍBLIA?


Muitas pessoas abrem a Bíblia por curiosidade a procura de histórias edificantes; outros buscam nela respostas para os seus problemas existenciais. Não faltam aqueles que fazem questão de decorar frases longas e significativas do texto sagrado. O que será que o homem de hoje busca na Bíblia? Cada pessoa teria uma resposta para este pergunta. O que é realmente a Bíblia? Um livro esotérico com receitas mágicas para solucionar os problemas humanos? Uma biblioteca especializada em cultura religiosa judaica? Um livro cheio de verdades e mentiras? A Bíblia é antes de tudo uma coleção de 73 livros religiosos. Ela é o lugar privilegiado da revelação de Deus aos homens.

A Igreja todo ano convida os católicos, no mês de setembro, a aprofundarem e intensificarem o conhecimento e a vivência da palavra de Deus através de estudos bíblicos, celebrações da palavra, etc. Deste modo procura-se munir o crente de instrumentos téorico-práticos para um contato verdadeiro e fiel com o texto bíblico, evitando as leituras subjetivistas e descontextualizadas da Bíblia.

Alguém pode se perguntar: "Mas é preciso tudo isso para ler e entender a Bíblia? Não basta saber ler? Infelizmente não basta simplesmente saber ler as palavras contidas na Bíblia. É preciso mais alguma coisa! Por esta razão constatamos que algumas pessoas lêem as páginas da Bíblia, deslocando-as do seu texto e contexto redacional, sem perceber a intencionalidade e o destinatário do texto, e com muita facilidade chegando a conclusões mirabolantes, alucinantes, verdadeiras "discrepâncias bíblicas".

O estudo da Bíblia requer da parte do crente, além de uma vivência de fé, considerar alguns aspectos histórico-literário-teológicos:

- a Palavra de Deus é comunicada, escrita, após uma vivência de fé de uma comunidade eclesial, num determinado contexto histórico-cultural. O que se encontra escrito na Bíblia foi primeiro vivido, experienciado pela comunidade eclesial (especificamente no caso do Novo Testamento);

- a Bíblia não é um livro de ciência. O autor de cada livro ao escrever a sua obra não tem a menor intenção de comprovar fatos, contestar alguma teoria científica. A sua leitura da realidade da comunidade, e da sua realidade pessoal, é uma leitura teológica e jamais científica. Portanto, nenhum ensinamento bíblico é conflitante com as ciências naturais modernas. A Bíblia não é um livro de física ou de química ou de geografia. A sua mensagem é um apelo constante que Deus faz para que o homem participe do seu projeto: um Reino de paz, justiça e fraternidade.

- o autor da Bíblia escreve inspirado pela ação do Espírito Santo que lhe garante total fidelidade à vontade divina. O autor bíblico não age movido pelo desejo de interpretar documentos antigos, fotocopiar lendas e mitos antigos. Nenhum estudioso da Sagrada Escritura (são chamados de exegetas), nega que na Sagrada Escritura um determinado autor (hagiográfo) possa servir-se de material histórico como fonte primária de seu escrito, porém esta fonte é sempre re-interpretada, re-atualizada de acordo com a mensagem que Deus quer comunicar ao seu povo escolhido.

Ao abrir a Bíblia é importante perceber a presença de Deus que me fala, que me chama, que deseja dialogar comigo; e não pretender descobrir através de alguma pseuda iluminação espiritual falsas "discrepâncias bíblicas". Elas jamais existiram. Um estudo orante da Bíblia, guiado pelo discernimento do Espírito Santo, ajuda o crente a descobrir e penetrar nesta experiência única e salvífica: perceber a voz de Deus falando, atuando no coração e na mente de todo homem de boa vontade, que descobre na Bíblia a fonte da sua espiritualidade, o alimento para seu serviço de amor e dedicação aos irmãos.

Fica aqui o convite fraterno: preocupemo-nos não tanto com as "discrepâncias bíblicas", mas unicamente em buscarmos uma coerência entre a nossa vida e a nossa fé, como testemunho transparente da Palavra de Deus para os homens e mulheres do nosso tempo independentes da comunidade de fé que pertencemos.

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