O ROSTO DE DEUS PAI REVELADO EM JESUS CRISTO
"Ninguém jamais viu Deus. O Filho único, que está no seio do Pai, foi quem o revelou" (Jo 1,18).
Hoje assistimos um fenômeno peculiar na pós-modernidade em âmbito religioso: de um lado, o capitalismo materialista coloca a felicidade e realização da pessoa humana exclusivamente na posse dos bens materiais; e do outro lado, aumenta o número de pessoas à procura dos bens espirituais, religiosos. Se constata que estas pessoas ao buscarem uma experiência mais profunda com o transcendente, na maioria das vezes, ficam desnorteadas diante as dificuldades de escolher qual experiência fazer, que deus se aproximar, que religião assumir. Não é fácil no mundo de hoje definir quem é Deus e onde encontrá-lo para conhecê-lo: como encontrar Deus, perceber o seu verdadeiro rosto no meio de tantos deuses e na confusão dos milhares de templos religiosos? Afinal, a problemática se resume na seguinte pergunta: Que Deus estou procurando?
Para o cristão, a Bíblia é o lugar privilegiado da experiência de Deus. No Antigo Testamento, Deus escolhe um povo e aos poucos vai se revelando na sua história. Mas é somente no Novo Testamento, através de Jesus Cristo que Deus revela a seu verdadeiro rosto: um Deus Trino - Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo -, escândalo para os judeus, e insignificância especulativa para os gregos.
Proposta de um texto para reflexão:
"Eu vos afirmo e esta é a verdade: o Filho nada pode fazer por si mesmo, a não ser o que vê o Pai fazer. Tudo o que ele fizer, fará igualmente o Filho. Porque o Pai ama o Filho e mostra-lhe tudo o que faz. E lhe mostrará ainda coisas maiores que estas, das quais ficareis maravilhados. Como o Pai ressuscita os mortos e lhes dá vida, também o Filho dá vida a quem quer. Quem escuta a minha palavra e acredita naquele que me enviou, tem a vida eterna e não será julgado, mas passou da morte à vida. Não posso fazer nada por mim mesmo. Não procuro a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. As obras que o Pai me deu para cumprir eu as faço e dão testemunho que o Pai me enviou. Nunca ouvistes sua voz, nem vistes sua face, nem conservais em vós sua palavra porque não credes naquele que me enviou. Percorreis as Escrituras, pensando ter nelas a vida eterna, mas elas também dão testemunho de mim, e vós não quereis vir a mim para terdes a vida!". (Jo 5, 19s)
A experiência paterna de Jesus:
Ele nos fala do Pai a partir de sua íntima relação com Ele: "Ninguém jamais viu Deus. O Filho único que está no seio do Pai, foi quem o revelou" (Jo 1,18). "Rabi, sabemos que és um mestre vindo de Deus" (Jo 3,2). Jesus é a face humana do Pai: "Ninguém jamais viu o Pai, senão aquele que veio de Deus" (Jo 6,46).
Jesus tem consciência de ser uno com o Pai: "Eu e o Pai somos um".
Jesus se reconhece como Filho de Deus, Cordeiro de Deus. Tem plena consciência de sua filiação divina. Reconhecendo esta filiação testemunha João Batista: "Eu o vi e dou testemunho de que ele é o Filho de Deus" (Jo 1,34).
Ele fala constantemente com o Pai na oração, na solidão.
Jesus é zeloso das coisas do Pai: "Não façais da casa de meu Pai uma casa de negociantes" (Jo 2,16).
Ele age sob a autoridade do Pai: "Meu Pai continua agindo ... "(Jo 5,17). "Eu desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou" (Jo 6,38).
Jesus é o Filho amado do Pai: Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único para salvar o mundo.
Ele recebe do Pai uma missão: dá aos homens a vida eterna (cf. Jo 3,16). E a sua missão não é condenar, mas salvar (cf. Jo 3,17).
Jesus se sente amado pelo Pai: "O Pai ama o Filho e confiou-lhe todas as coisas" (Jo 3,35).
O rosto paterno de Deus que Jesus nos revela:
1. Um Pai que tem uma predileção especial para com os doentes, os pobres, os marginalizados.
2. Um Pai que condena o pecado e deseja a salvação do pecador.
3. Um Pai preocupado com o destino de seus filhos.
4. Um Pai que tem um projeto de vida para seus filhos: a construção do Reino na história dos homens.
5. Um Pai que deve ser adorado pelos filhos: "Nós adoramos o que conhecemos" (Jo 4,24). Ele deseja ser adorado em espírito e verdade (cf. Jo 4,24).
6. Um Pai que reúne os filhos ao redor da mesa para partilhar o pão nosso de cada dia.
7. Um Pai que congrega os seus filhos em comum-unidade (Igreja).
8. Um Pai que alimenta os filhos oferecendo do seu próprio pão: "Meu Pai é que vos doa, do céu, o pão verdadeiro. O pão de Deus é aquele que desceu do céu e doa a vida ao mundo" (Jo 6,32b-33).
9. Um Pai que participa da dor e do sofrimento da humanidade, das suas angústias e esperanças.
10. Um Pai que faz questão em dialogar intimamente com cada um de seus filhos no silêncio da oração.
Deus Pai é para Jesus:
um Pai misericordioso.
um Pai que confia nos seus filhos.
um Pai que ama infinitamente os filhos e por eles tudo faz.
um Pai paciente e persistente, que espera a conversão dos filhos.
um Pai presença na vida dos filhos.
um Pai vigilante e zeloso.
um Pai exigente.
um Pai que ama a justiça e a verdade.
um Pai que não discrimina, acolhe todos.
um Pai que deseja ver todos os seus filhos unidos formando uma só família.
um Pai que envolve todos os seus filhos no seu projeto de salvação.
um Pai que conhece as necessidades de seus filhos.
um Pai que é plena comunhão trinitária.
Convite à reflexão e meditação:
• Texto proposto: Jo 5, 19-24.
• Questionamentos:
Qual a experiência que fiz até hoje da paternidade de Deus?
Que traços da paternidade de Deus percebo mais marcante na minha espiritualidade?
Sinto-me verdadeiramente amado por Deus Pai?
Sou apaixonado por Deus Pai como era Jesus?
Quais as experiências que aceitei a correção amorosa do Pai e que foi para mim conversão, libertação?
Como vivo na minha comunidade a dimensão da fraternidade como filhos e filhas do mesmo Pai?